Dias Sem Sol

Em uma manhã abafada e cinzenta, o despertador tocou. Helena havia dormido, mas não o suficiente para descansar. “Preciso mesmo me levantar?” Os passos apressados de criança no corredor responderam antes que ela decidisse. João, seu filho de sete anos, parecia ter lido seu pensamento. Ela olhou para o lado esquerdo da cama vazio. O marido já saíra para o trabalho. Levantou-se em silêncio. Preparou o café do pequeno, comeu apenas uma maçã. Enquanto João brincava, transformando o tapete em montanha, ela se deitou no sofá. A semana tinha sido longa: reuniões sem fim, horas extras, cobranças do chefe por ter saído mais cedo na quarta-feira para buscar o filho, noites em claro devido à febre de João, pediatra, farmácia… e a sensação constante de estar sempre devendo algo ao trabalho, à casa, a si mesma. Ali, no sofá, respirou fundo. Enfim, uma folga. Pegou o celular, deslizou os dedos pela galeria de fotos até encontrar uma imagem antiga: João, ainda bebê, brincando à beira de uma cachoe...